Tão quieto quanto deveria ser.

As coisas permanecem calmas.Quase como naquelas noites em que não dormimos para ouvir os sons que só se pode ouvir em silêncio. Quase como quando somos capazes de sentir o outro pela respiração.É tudo tão quieto quanto deveria ser. Os dias terminando, e recomeçando para terminar outra vez. Do primeiro ao último estalo, da primeira à última nota.Passam as horas, as semanas e aquelas frações incontáveis de tempo, em que não há cronômetro ou medida para demarcar. Aquelas frações em que os movimentos acontecem todos desacelerados aos nossos olhos.Passam os calendários, os ponteiros e as datas.Passam também as pessoas. Apressadas, em suas pequenas vidas, em busca de seus pequenos sonhos. Pessoas atrasadas, horários ajustados, rotinas programadas e responsabilidades infindáveis. Passam todas num mesmo ritmo, atravessando ruas e existências inteiras sem parar para entender por que.Passam os fatos. Passam os sonhos, que se realizam e depois se vão. Passam as expectativas. Passam os medos.Passamos todos. Uns pelos outros.Tudo tão certo quanto possível, como se estivesse programado para ser assim. Tudo ordenado, como prateleiras de livros onde não se pode tocar. Tudo tão quieto quanto deveria ser.E eu fico imaginando o que você faria, se eu dissesse que de todos os outros ângulos a vida está perfeita; mas continua tudo errado visto daqui.

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