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(...) Desejei atravessar para sempre aquela rua. Enquanto você caminhava de costas para onde iríamos, eu o seguia de frente, girando até que me envolvesse perfeitamente em seus braços, como se dançássemos. E enquanto a cidade ainda dormia, eu senti que naquele instante o mundo era meu. O mundo me pertencia inteiro, simplesmente porque eu amava. E amar me tornava detentora de todas as respostas, de todos os segredos e de todos os mistérios da existência. Amar me fazia existir verdadeiramente. E em seus olhos eu me transformava em matéria infinitamente mais real do que aquela em que eu tocava. Então compreendi que a minha realidade estava submetida ao seu toque. E deixei que você me abraçasse e me conduzisse até o outro lado. Eu desejei atravessar para sempre aquela rua, mas nós precisávamos ir. Porque era tão tarde à noite, a ponto de ser cedo demais naquela manhã de novembro. Precisávamos ir porque existiam regras, pessoas, relógios, ponteiros, esperas, deveres... mas, intimamente, nós permaneceríamos ali. E secretamente, o mundo ainda me pertenceria. Enquanto, no meu coração, eu sabia: era a você, que eu desejava pertencer.

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